terça-feira, 20 de novembro de 2007

Tin Tin e o racismo em quadrinhos

Tin Tin é o famoso personagem criado em 1929 pelo quadrinista belga Georges Prosper Remi, vulgo Hergé. Sua primeira aparição foi na aventura "Tin Tin no país dos sovietes", em que a personagem tenta publicar um artigo que conte "a verdade" sobre o que ocorre na URSS e é perseguido por agentes da KGB.

Recentemente Tin Tin tornou-se manchete de jornais, sites e blogs mundo afora, em função de sua segunda aventura, Tin Tin no Congo, publicado pela primeira vez em 1930. O motivo? Racismo!

A organização inglesa Comissão pela Igualdade Racial (Comission for Racial Equality) classificou o livro, publicado em inglês somente em 2005, como racista e solicitou à rede de livrarias Borders que retirasse o álbum de suas estantes. Segundo um dos membros da CRE, "Este livro contém imagens e palavras de terrível preconceito racial, onde os 'nativos selvagens' se parecem com macacos e falam como imbecis". À época, o Congo era uma colônia belga, e o editor do jornal para o qual foi escrita a história solicitou a Hergé, uma aventura que ajudasse a convencer os jovens leitores belgas da validade da colonização do país africano. E lá foi Tin Tin cumprir sua missão, chegando a um país, aonde elefantes falavam muito bem entre si, mas os congoleses não. Nas páginas de Hergé, que nunca saiu da Bélgica, a colonização tornou-se praticamente um favor que os belgas fizeram aos africanos.

A história cumpriu tão bem seu papel que ao ser publicado em Portugal recebeu o nome de "Tin Tin em Angola", então colônia portuguesa. No Brasil, o álbum foi publicado com o nome "Tin Tin na África".

Na medida em que a história foi sendo republicada, recebeu novas roupagens. Em 1946, Hergé substitui as referências ao colonialismo, mantendo, porém, o esterótipo abrutalhado e ignorante dos africanos. Falecido em 1983, Hergé, justificava sua verão original como simples reprodução do pensamento predominante dos anos 30, justificativa essa utilizada por muitos fãs de Tin Tin. A essa justificativa, respondemos tal como os ativistas da CRE: "sim, ele foi escrito há muito tempo, mas isso não o torna aceitável".

Neste 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, chamamos a todos os lutadores brasileiros a afirmar com todas as letras que o racismo, sob hipótese alguma pode ser tolerado, nem mesmo em nome da "arte".

2 comentários:

Anônimo disse...

E o preconceito contra os povos indígenas, porque ninguém protesta?

Existem milhares de filmes, quadrinhos, desenhos animados, entre outras criações, em que os indígenas aparecem como bandidos (como nos filmes de faroeste) ou como retardados que só sabem falar "Uga! Buga!"...

Mas disso nunca ninguém reclamou...

Thaiz Senna disse...

Muito interessante o post. E um dos aspectos que agrava o problema é que grande parte do público deste tipo de HQ são as crianças.
Se pegarmos as revistinhas da Turma da Mônica, a HQ infantil mais famosa do Brasil, vemos, escondido sobre a moral e o bem-tratar de índios e deficientes, um cruel discurso machista para permear a consciência dos pequenos.