quinta-feira, 26 de abril de 2007

70 anos do bombardeio de Guernica

Em 26 de abril de 1937, a cidade basca de Guernica foi praticamente riscada do mapa pela aviação fascita de Hitler e Mussolini na chamada Operação Rügen. Quarenta e dois aviões sucederam-se um após o outro, das 16h35 às 19h45 metralhando e despejando granadas e bombas incendiárias sobre a mais antiga cidade do povo basco. Setenta por cento dos edifícios foram destruídos e o número de mortos, ainda incerto, pode ter chegado a 1600 pessoas.

A cidade não era um alvo militar. Guernica foi praticamente um ensaio das hordas fascitas para a Grande Guerra que ainda estava por vir. O plano militar foi executado de forma inacreditavelmente cruel. Primeiro grandes bombas e granadas que fizeram as pessoas se esconder, em seguida vôos razantes metralhando quem ainda não tivesse se alojado nos abrigos e por fim bombas incendiárias que demoliram e queimaram casas por cima de suas vítimas.

Guernica foi imortalizada na famosa obra de Pablo Picasso, mas igualmente importante foi o trabalho do jornalista George Steer que chegou aos escombros da cidade na madrugada do dia 27 e tornou público o horrendo massacre ocorrido ali.

Por ocasião dos 70 anos do bombardeio, o jornal britânico Times Online republicou a reportagem de Steer, The tragedy of Guernica. A rede de tradudores Tlaxcala, publicou em seu portal as versões da reportagem original em português, espanhol, francês, italiano, alemão, entre outras linguas. Junto com as traduções da reportagem, a rede Tlaxcala divulgou novos trabalhos artísticos por ocasião dos 70 anos de Guernica e uma importante introdução aonde se lê:
"As Guernicas de hoje se chamam Gaza, Tel Afar, Faluja, Samarra e Najaf, assim como Grosny ou Kandahar. Os aviões que cospem as bombas mortíferas já não levam a cruz de ferro, mas as insígnias dos países “democráticos”. O lugar dos “inimigos vermelhos de Deus” contra os quais diziam lutar Franco, Hitler e Mussolini para salvar o Ocidente, é ocupado hoje pelos “islamitas” e o “eixo do mal”, que, segundo Bush, autêntico Hitler de nossos dias, vai de Havana a Pyongyang, passando por Caracas, Beirute, Damasco, Cartum e Teerã. E a “comunidade internacional”, ontem paralisada diante do martírio da Etiópia e da Espanha, hoje em dia, frente ao martírio da Palestina, Iraque e Afeganistão, está pior que paralisada, é cúmplice das centenas de Guernicas que se repetem ante nossos olhos cansados, dia após dia."
A charge é de Ben Heine e expressa muito bem as novas Guernicas.


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2 comentários:

Anônimo disse...

Já que o assunto é o bombardeio de Guernica, sugiro a todos que assistam no YouTube o vídeo-clipe da canção "Gernika 37-87", do extinto grupo de rock "Kortatu", do País Basco, que nos anos 80 foi um dos mais conhecidos de toda a "Espanha" (ou "Estado Espanhol", como dizem os bascos e catalães).

O link do vídeo é este:

http://www.youtube.com/watch?v=fAZPQUqOjhs

A música "Gernika 37-87" é cantada no idioma basco, e foi composta em 1987, em homenagem aos 50 anos do bombardeio de Guernica. Na letra, o grupo Kortatu compara o massacre da população basca de Guernika com o massacre do povo negro em Soweto na África do Sul, e com o massacre de palestinos em Sabra e Chatila.

Os "efeitos especiais" do video-clipe, bastante artesanais, nos lembram que é um clipe feito na década de 80, com poucos recursos.

Anônimo disse...

Apenas um acréscimo ao comentário acima: o Kortatu era um grupo que se reivindicava abertamente comunista e revolucionário, e inspirou boa parte da cena musical "de esquerda" da Espanha (não apenas do País Basco, mas também de Barcelona, Madrid e outras cidades). Até mesmo o Mano Chao se inspirou no Kortatu, inclusive ele gravou uma música junto com o "Negu Gorriak", a banda que o vocalista e o guitarrista do Kortatu formaram nos anos 90.